Aconteceu na Caatinga.
Era meio-dia e a
caatinga brilhava à luz incandescente do Sol. O pequeno Calango deslizou rápido
sobre o solo seco, cheio de gravetos e pedras, parando na frente do majestoso
Mandacaru, que apontava para o céu seus espinhos, os grandes braços abertos em
cruz.
– Mandacaru!
Mandacaru! Eu ouvi os homens conversando lá adiante e eles estavam dizendo que,
como a caatinga está muito seca e cor de cinza, vão trazer do estrangeiro umas
árvores que ficam sempre verdes quando crescem e estão sempre cheias de folhas.
– Mas que novidade é essa? – falou a Jurema.
– Coisa de gente
besta – disse o Cardeiro, fazendo um
gesto de desprezo e atirando espinhos para todo lado.
– Eu é que não acredito nessas novidades – sussurrou o pequeno e tímido Preá.
[...]
E no outro dia,
bem cedinho, os homens já haviam plantado centenas de arvorezinhas muito
agitadas, serelepes e faceiras, que falavam todas ao mesmo tempo na língua lá
delas, reclamando de tudo: do Sol, da poeira, dos bichos e das plantas nativas,
que elas achavam pobres, feias e espinhentas. Enquanto
falavam, balançavam os galhinhos, que iam crescendo, ganhando folhas e ficando
cada vez mais fortes.
Enquanto isso, as plantas da caatinga,
acostumadas a viver com pouca água, começaram a notar que essa água estava cada
vez mais difícil de encontrar. As raízes do Mandacaru, da Jurema e do Cardeiro
cavavam, cavavam e só encontravam a terra seca e esturricada.
O Calango então
se reuniu com os outros bichos e plantas para encontrar uma solução. E foi a
velha Cobra quem matou a charada:
– Quem está
causando a seca são essas plantinhas importadas e metidas a besta! Eu me
arrastei por debaixo da terra e vi o que elas fazem: bebem toda a nossa água e
não deixam nada para a gente.
– Oxente! –
gritou o Calango. – Então vou contar isso aos homens e pedir uma solução.
Mas logo o
Calango voltou, triste e decepcionado.
– Os homens não
me deram atenção – disse. – Falaram que eu não tenho instrução, não fiz
universidade e que eu estou atrapalhando o progresso da caatinga.
E todos os
bichos e plantas ficaram tristes, mas estavam com tanta sede que nem sequer
puderam chorar: não havia água para fabricar as lágrimas. Por muitos dias
ficaram assim e quando estavam à beira da morte houve um movimento: era o Preá,
que levantou o narizinho e gritou:
– Estou
sentindo cheiro de água!
– É mesmo! –
gritaram todos.
– O que será
que aconteceu? – perguntou a Jurema.
– Eu vou ver o que foi – e o Calango saiu
veloz, espalhando poeira para todos os lados.
O Mandacaru
estirou os braços, espreguiçou-se e sorriu:
– Estou recebendo água de novo! Hum... É muito
bom! Mas vejam! O Calango está de volta com novidades!
– As pequenas bandidas verdes, depois de beber
quase toda a água da caatinga, estavam ameaçando a água dos rios e dos açudes
perto das cidades. Os homens então viram o perigo e deram fim a todas elas.
E todos ficaram
alegres, sentindo a água subir pelas raízes. Olharam para o céu azul da
caatinga, o Sol brilhante, olharam uns para os outros e viram que eram irmãos,
na mesma natureza e na mesma Terra [...]
( Adaptação do conto de Clotilde Tavares, Nova Escola –
edição especial, abril de 2007)
VOCABULÁRIO:
Caatinga-
tipo de vegetação, característico do Nordeste brasileiro, formado por pequenas
árvores comumente espinhosas que perdem as folhas no curso de longa estação
seca.
Cardeiro-
designação comum a várias plantas da família dos cactos.
Mandacaru-
tipo de cacto, grande como árvore, com tronco grosso e ramificado.
Jurema-tipo
de arbusto, armado de espinhos.
Preá-
mamífero roedor; vive nos capinzais à beira dos córregos, lagoas e rios.
Incandescente que está em brasa; ardente.
01. No texto, em relação aos elementos da narrativa, é
correto dizer que o (s): (A) personagens participam da história, exigindo
mudança no clima da região.
(B) tempo é definido com precisão, ou seja, há o registro
claro de quando ocorrem os fatos.
(C) espaço é limitado, pois cada planta escolhe o seu
lugar adequado para viver.
(D) enredo mostra uma região castigada pela seca e a
solução trazida pelos homens contraria os habitantes do local.
(E) conflito
apresentado é entre os personagens do mundo animal e os personagens do mundo
vegetal.
02. Sobre a fala dos personagens do texto, analise as afirmativas abaixo
e, a seguir, assinale a alternativa correta.
I. “Mandacaru! Mandacaru!’ as palavras
destacadas indicam a aflição do Calango.
II.“- Mas que
novidade é essa?- falou a Jurema. nesta fala, Jurema demonstrou
curiosidade.
III. “É mesmo! –
gritaram todos”. a expressão destacada indica que os animais ficaram animados
diante do que tinha sido dito anteriormente pelo Preá.
IV. “Estou recebendo água de novo! Hum... É
muito bom!” a fala do Mandacaru transmite uma consequência da plantação de
árvores estrangeiras.
(A) Somente I e II
(B) Somente II e III
(C) Somente III e IV
(D) Somente I, II e III
(E) Somente I, II e IV
03. No trecho: “ Oxente!
– gritou o Calango. – Então vou contar isso aos homens e pedir uma solução.”, a
palavra destacada é uma expressão popular típica do Nordeste. Quanto a este
vocábulo, podemos afirmar que se trata de um(a):
(A) interjeição, porque exprime o espanto do animal.
(B) advérbio, pois informa o modo como a personagem
falou.
(C) adjetivo, pois caracteriza sentimento de admiração do
Calango.
(D) verbo, porque expressa uma ordem que o animal dá aos
bichos e plantas. (E) pronome, porque substitui o nome da personagem com quem o
Calango fala.
04. A alternativa em que a palavra destacada foi
empregada em sentido figurado é:
(A) “O pequeno Calango deslizou rápido sobre o solo seco, cheio de gravetos e pedras,...”
(B) “Eu ouvi os homens conversando lá adiante...”
(C) “Eu é que não acredito
nessas novidades...”
(D) “E foi a velha Cobra quem matou a charada:...”
(E) “– Os homens não me deram atenção...”
Os itens 05, 06 e 07 referem-se ao trecho abaixo: “E
todos os bichos e plantas ficaram
tristes, mas estavam com tanta sede que nem sequer puderam chorar: não
havia água para fabricar as
lágrimas.”
05. As palavras
destacadas estabelecem, respectivamente, as relações de:
(A) adição, exclusão, causa e solução.
(B) inclusão, oposição, causa e finalidade.
(C) adição, oposição, consequência e finalidade.
(D) inclusão, explicação, conclusão e consequência.
(E) explicação, oposição, consequência e justificativa.
06. Neste trecho, os dois pontos podem ser substituídos,
sem se alterar o sentido, pela conjunção:
(A) quando (B) se (C) embora (D) porém (E) porque
07. Se o trecho: “E todos os bichos e plantas ficaram
tristes, mas estavam com tanta sede que nem sequer puderam chorar: não havia
água para fabricar as lágrimas.” fosse uma previsão do que poderá acontecer com
a terra no futuro, caso nos falte a água, os verbos sublinhados deveriam ficar
no tempo futuro do presente, ou seja, deveriam ser assim registrados:
(A) ficariam – estariam – poderiam – haveria
(B) ficarão – estarão – poderão – haverá
(C) ficaram – estaram – poderam – haverá
(D) ficarão – estariam – podiam – há
(E) ficaram – estão – poderão – haveria
08. Leia o trecho abaixo e, de acordo com a numeração,
assinale a alternativa correta quanto à classificação das classes gramaticais.
“E no (1)outro dia, (2)bem cedinho, os homens já haviam
plantado (3)centenas de arvorezinhas
(4)muito agitadas, (5)serelepes e faceiras, que falavam
todas ao mesmo tempo na (6)língua lá
delas, (7)reclamando de tudo:
(A) (1) numeral; (2) preposição; (3) numeral; (4) pronome;
(5) substantivo; (6) adjetivo; (7) advérbio.
( B) (1) adjetivo;
(2) advérbio; (3) numeral; (4) pronome; (5) substantivo; (6) adjetivo; (7)
verbo.
(C) (1) pronome; (2) advérbio; (3) numeral; (4) advérbio;
(5) adjetivo; (6) substantivo; (7) verbo.
(D) (1) pronome; (2) advérbio; (3) substantivo; (4)
advérbio; (5) adjetivo; (6) adjetivo; (7) substantivo.
(E) (1) numeral;
(2) substantivo; (3) substantivo; (4) advérbio; (5) adjetivo; (6) substantivo;
(7) advérbio.
GABARITO
1D/ 2D/ 3A/ 4D/ 5C/ 6E/ 7B/ 8C
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